Quem tem medo da Wikipédia?

JC e-mail 2918, de 19 de Dezembro de 2005.
Quem tem medo da Wikipédia?, artigo de Marcelo Leite


A primeira enciclopédia livre da internet andou sob
escrutínio, mas saiu dele melhor do que entrou

Marcelo Leite (cienciaemdia@uol.com.br) é doutor em
Ciências Sociais pela Unicamp, autor dos livros
paradidáticos "Amazônia, Terra com Futuro" e "Meio
Ambiente e Sociedade" (Editora Ática) e responsável
pelo blog Ciência em Dia (cienciaemdia.zip.net). Texto
publicado no caderno "Mais!" da "Folha de SP":

Wikipédia -guarde este nome, ou melhor, inclua-o nos
favoritos de seu navegador de Internet
(pt.wikipedia.org em português, en.wikipedia.org em
inglês).

Ao lado do Google, é um dos fenômenos da web, mas tem
uma diferença crucial: vem capitaneado por uma
fundação e não tem por objetivo dar lucro. Nas últimas
semanas, a primeira enciclopédia livre da Internet
andou sob um escrutínio intenso, mas saiu dele melhor
do que entrou.

Em pauta esteve a confiabilidade da Wikipédia, cujos
verbetes podem ser criados e modificados por qualquer
pessoa.

A idéia é que essa edição contínua do conteúdo pelo
público aumente sua precisão. O outro gume está em que
tanta abertura é também um prato cheio para
aventureiros.

Estão disponíveis na Wikipédia coisa de 3,7 milhões de
artigos, em 200 línguas. Desde que foi fundada, em
2001, já acumulou mais de 45 mil usuários registrados,
só na versão em inglês. Em outubro, recebeu a média de
1.500 novos artigos. Por dia.

A controvérsia foi disparada por uma coluna furibunda
do jornalista americano John Seigenthaler no diário
"USA Today" de 29 de novembro.

Seigenthaler denunciava a 37ª página mais consultada
da internet por manter 132 dias no ar uma biografia
sua com informações ofensivas. Entre outras coisas,
dizia que ele chegara a ser suspeito de envolvimento
nos assassinatos de John e Robert Kennedy.

A página foi enfim retirada do ar, depois de um
périplo eletrônico de Seigenthaler na Fundação
Wikimedia e noutros sítios que reproduzem conteúdo da
Wikipédia.

O jornalista chegou a apelar diretamente para um dos
criadores da enciclopédia, Jimmy Wales, que preside a
fundação baseada na Flórida (EUA).

De lá para cá, o vândalo foi identificado: Brian
Chase, de Nashville, Tennessee, que pediu desculpas
diretamente a Seigenthaler - por carta.

Wales defendeu a Wikipédia dizendo que essa foi uma
falha excepcional, que escapou ao exército de
escrutinadores de novas entradas. Por via das dúvidas,
tornou a enciclopédia um pouco menos livre.

A partir de agora, não será mais possível criar ou
modificar verbetes de maneira anônima.

No meio da tempestade, a voga "wiki" -da expressão
havaiana "wiki wiki", rápido-ganhou um reforço
inesperado do mais prestigiado periódico científico do
mundo.

Nesta semana, a revista "Nature" traz o resultado da
aplicação de seu método de controle de qualidade, a
revisão por pares ("peer review"), à Wikipédia. No
confronto direto com a "Britannica", mãe de todas as
enciclopédias, perdeu por pouco: 4 a 3.

A "Nature" enviou 42 pares de verbetes sobre ciência
para dezenas de especialistas. Na média, foram
constatadas 4 imprecisões por verbete da Wikipédia e 3
da "Britannica", a maioria pequenas.

Dos totais respectivos de 162 e 123 erros encontrados,
só 8 foram considerados graves pelos revisores, 4 em
cada uma.

A lição a tirar não é só que a Wikipédia não é 100%
confiável, mas que nenhuma fonte o é. Ela, ao menos,
está aí para ser vigiada e posta na linha por qualquer
um. Mãos à obra.
(Folha de SP, Mais!, 18/12)

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