ELVIRA LOBATO
da Folha de S.Paulo
A SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) fez ontem, em São Paulo, uma demonstração do sistema de televisão digital desenvolvido por 22 consórcios de universidades públicas e privadas. O governo federal gastou R$ 38 milhões com as pesquisas, só neste ano.
Pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), da Universidade Mackenzie, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro fizeram testes de transmissão em alta definição e de interatividade. Na próxima sexta-feira, haverá demonstrações, com participação de todos os consórcios, no campus da USP, em São Paulo.
Segundo os pesquisadores, o sistema brasileiro está pronto e, até sexta-feira, serão montados 15 protótipos do equipamento (caixa de conversão) desenvolvido pelas universidades.
O presidente da SBPC, Ennio Candotti, disse esperar que o Ministério da Ciência e Tecnologia e o das Comunicações apóiem a segunda fase do projeto --a de fabricação--, que exigirá o envolvimento da indústria.
Até 10 de fevereiro do próximo ano, o governo anunciará oficialmente a escolha do sistema de TV digital a ser adotado no país. Além do brasileiro (em fase de teste), há o norte-americano, o europeu e o japonês. O prazo para a escolha foi estabelecido, por decreto, no final de 2003.
A Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) afirmou ontem que, qualquer que seja o sistema escolhido, a preocupação da entidade é que seja dada prioridade para a produção de componentes no país.
A Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos) queixou-se, na semana passada, de falta de transparência do governo na discussão da escolha do sistema de TV digital. A entidade calcula que as indústrias terão de investir US$ 1 bilhão na adaptação das linhas de produção e quer ser ouvida.
Royalties
O professor Marcelo Knorich Zuffo, do Laboratório de Sistemas Integráveis da Universidade de São Paulo, disse, na exibição dos testes, que nenhum dos sistemas existentes no exterior funcionaria no Brasil, sem adaptação.
Segundo ele, o Brasil "patinou" durante dez anos, quando insistia entre os sistemas europeu, norte-americano ou japonês. Para o cientista, o Brasil economizará 20% de despesas de royalties com a escolha do sistema proposto pelas universidades. Os pesquisadores calculam que o investimento total a ser feito até a completa substituição dos televisores analógicos por digitais vá chegar a US$ 10 bilhões.
O período de transição é estimado entre 10 e 15 anos e, nesse prazo, o governo emprestará um canal a cada emissora geradora para que continue transmitindo a programação no sinal analógico, simultaneamente à transmissão digital. Os pesquisadores prevêem que a TV digital possa ser oferecida aos consumidores a partir de janeiro de 2007.
Celulares
O protótipo desenvolvido permite que a programação da TV aberta (Globo, Bandeirantes etc.) seja captada por telefones celulares, sem passar pelas antenas de retransmissão das operadoras de telefonia, o que dá maior poder à radiodifusão na disputa de mercado com as teles.
Os radiodifusores poderão usar a freqüência para transmitir um canal de TV em alta definição ou para transmitir até quatro programações simultaneamente, sem alta definição, com interatividade. A interatividade vai permitir, por exemplo, que o espectador compre produtos exibidos na tela, usando o controle remoto.
Na semana passada, os governos do Brasil e da Argentina assinaram acordo de cooperação para o desenvolvimento de um sistema único de televisão digital. Segundo o Ministério das Comunicações, a Colômbia mostrou interesse em aderir ao acordo.
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